De forma a que possamos entender a diferença que existe referente à forma de se utilizar o REIKI no Japão (refiro-me aqui à época e a forma em que Sensei Mikao e Sensei Hayashi ensinavam) e no ocidente, é preciso primeiro analisar alguns aspectos da cultura japonesa:
1- No Japão, o REIKI faz parte de um caminho de iluminação. Diz-nos Sensei Mikao na primeira pergunta de sua entrevista: “… a fim de alcançarmos o caminho (espiritual) adequado para a humanidade, precisamos viver conforme estes princípios” (refere-se aqui aos Cinco Princípios do Reiki) “Isso significa que devemos, com a prática, aprender a aperfeiçoar nosso espírito e corpo. Para tanto primeiro precisamos curar o espírito, depois tornamos o corpo saudável. Quando nossa mente se encontra no caminho da honestidade e da seriedade, o corpo torna-se saudável por si mesmo. Então, o corpo e a mente tornam-se um e vivemos nossa vida em paz e alegria. Curamos a nós mesmos e curamos as enfermidades dos outros, intensificando e aumentando nossa própria felicidade, assim como a de outras pessoas. Esta é a meta do Usui Reiki Ryoho.” (em Reiki, o Legado do Dr. Mikao Usui- de Frank Arjava.). No ocidente aprendemos o REIKI para nos tratar e tratar outras pessoas, sem qualquer vinculação ou enfoque ao desenvolvimento de um caminho espiritual.
2- Na época de Sensei Mikao Usui e Sensei Hayashi não eram as pessoas quem decidiam o momento em que se tornariam praticantes Reiki I, II ou III. Quando o mestre percebia que eles haviam alcançado um patamar de sensibilidade e percepção energética e um fortalecimento em seu interior (por vivenciarem os Princípios e terem através de exercícios específicos sensibilizado suas mãos para a percepção dos bloqueios no corpo), então o aluno era considerado apto a receber os instrumentos disponíveis para o trabalho em si e nos outros. É resposta de Sensei Mikao sobre o momento de se fazer o Reiki II: ” O que precisa ser feito para aprender o Okuden (nível 2)? (…) Primeiro aprenda o Shoden, e quando trouxer a mim bons resultados, comportar-se adequada, honesta e moralmente, demonstrando entusiasmo (pelo REIKI) então será iniciado (no Shoden). ”
No ocidente, a presença em um curso avançado depende e varia de acordo com o Mestre. Em geral, os que seguem a linha do REIKI tradicional – segundo a linhagem da Sensei Takata- obedecem a um período de três meses entre REIKI I e REIKI II e seis meses entre REIKI II e REIKI III. Há mestres, entretanto, que dão os três níveis em três dias seguidos, um dia para cada nível. Os alunos podem se matricular nos cursos independentemente de estarem fazendo uso da técnica REIKI e de ter galgado algum outro patamar de frequência energética. Também o ensino não conecta com mudanças comportamentais necessárias.

3- No Oriente, quando um aluno decidia aprender REIKI, ele passava a ter encontros semanais com seu Mestre. Era indicado a ele que meditasse pela manhã e à noite e que vivenciasse e seguisse os Cinco Princípios do Reiki. A cada encontro semanal com seu Mestre, o aluno passava por uma sintonização de Reiki que tinha por objetivo elevar o potencial de vibração energética do aluno, limpar o canal de comunicação personalidade/Espírito, centros de energia físicos e supra físicos, fortalecendo sua ligação com seu Espírito e sensibilizar suas mãos. Nestes encontros se reuniam alunos de todos os níveis e a sintonização era a mesma para todos os alunos. Quando o Mestre percebia o crescimento individual de seu aluno e a vibração e sensibilidade energética apropriada, ele apresentava ao seu aluno as ferramentas com as quais poderia trabalhar a partir daquele momento, caracterizando um novo nível. Os alunos, portanto, eram iniciados na energia REIKI e não nos portais/símbolos, como no Ocidente. Esta forma de se proceder faz com que, muitas vezes, o caminho do Reikiano pela escola tradicional de REIKI no Japão, segundo a Usui Reiki Ryoho Gakkai, leve muitos anos, até que ele possa se tornar um Mestre. E ainda mais tempo até que ele possa vir a dar cursos ou formar outros mestres. No ocidente, o processo termina sendo um pouco mais ágil, desde que se use a energia, pois utilizando-se a energia e os instrumentos a que somos apresentados, passamos por profundas transformações, consequentes de nosso aumento vibracional, nosso equilíbrio e transmutação de nossas limitações. Segue-se justo o caminho inverso do seguido nos primórdios do REIKI no oriente. Enquanto no Oriente o foco era a mudança de vibração e mudança de comportamentos e irradiação emocional e mental, o fortalecimento do campo para depois acessar os instrumentos, no ocidente se apresentam os instrumentos e técnicas e através de seu uso em nós mesmos e em outros, fortalecemos os sistemas e modificamos padrões mentais e emocionais. Da mesma forma, as sintonizações passaram por uma mudança. No ocidente, em geral, temos uma sintonização diferente para cada nível do REIKI, fruto da implantação dos portais de cada nível em nossos sistemas.
4- É importante saber que a mente do oriental funciona de forma diferente da mente do ocidental. Por seu estilo de vida, o oriental é incentivado à meditação desde criança e a viver no momento presente. Seu próprio sistema de alfabeto leva a uma estrutura mental diferente da nossa. Lá eles lidam com três alfabetos e a forma de aprendizagem destes alfabetos é uma forma metódica e paciente. Os kanjis e caracteres japoneses levam a mente a perceber as coisas em sua totalidade, enquanto a mente do ocidental é levada a perceber as coisas de forma fragmentada. Da maneira como os japoneses se estruturam e vivem, o ser humano torna-se mais passível à interiorização que nós, os ocidentais.
5- Na cultura japonesa o REIKI tem por objetivo a cura, apenas a cura. A nível físico ou emocional/mental ou de hábitos. A forma utilizada para se auto-perceber e apaziguar é a Meditação Gassho, que praticam com constância, bem como a vivência dos Cinco Princípios. Nós, no ocidente optamos por auto-aplicações diárias de Reiki o que intensifica e agiliza o processo de transformação pessoal e apazigua mente, corpo e espírito. Não usamos o REIKI apenas para cura, mas também para aumentar a nossa vibração energética, fortalecer nossa transformação espiritual, trazer maior bem estar, maior disposição, maior nutrição amorosa.
6- Segundo a Sra. Chiyoko Yamaguchi (discípula de Sensei Hayashi), o oriental tem pelo seu mestre uma relação de profundo respeito. Desta forma, não costumam experienciar absolutamente nada que seu mestre não lhes tenha ensinado. Se, por algum acaso, eles tiverem a comprovação de algum outro conhecimento que não fora passado pelo seu Mestre, eles não multiplicam essa informação, pois isso seria desonrar a memória de seu Mestre. Nós do ocidente, por características de civilização, adquirimos o conhecimento e logo experienciamos outras situações por analogia, expandindo e multiplicando as formas e focos daquele uso. Isso não significa desrespeito pelo mestre. Assim, o uso da energia REIKI foi ampliado e diversificado a partir dos ensinamentos orientais e desta forma se expandiu pelo mundo. Os orientais (tanto na Usui Reiki Ryoho quanto no Instituto Jikiden Reiki) conhecem a forma do ocidental trabalhar com a energia REIKI, mas não fazem uso de outras formas se não aquelas divulgadas e ensinadas por Sensei Mikao e/ou Sensei Hayashi.

7- Dentre as formas novas de utilização da energia, no ocidente usa-se o REIKI para tratar animal, plantas, limpar ambiente, aumentar o nível vibracional das coisas e lugares, etc. Para os orientais, a ideia é: se tem tempo, encontre um ser humano que necessite de energia. Como um dos objetivos básicos de Sensei Mikao Usui é nos relembrar Buda, Deus e encontrar assim a felicidade e a paz interior, o foco do tratamento inicial é liberar e curar tudo que impede esta lembrança e este estado. Por isto, focado no ser humano. Um caminho para se entrar em estado de Unicidade com tudo que há e em estado de iluminação.
8- Em sua forma de viver, o japonês se relaciona basicamente com o seu próprio grupo e tem um respeito pelo espaço e vida do outro, diferente do ocidente. Assim, se um aluno da escola x, por exemplo, se encontra com um aluno da escola y, eles não trocam ideias sobre o que ocorre em cada uma das escolas. Se uma pessoa da casa, faz um curso, isso não interessa a quem não fez o curso, mesmo que seja seu marido. Se alguém trabalha na firma x, em geral, mora no bairro em que todos da firma moram, interage mais com pessoas da sua empresa, se relaciona com seu grupo mais próximo. Se há alguém doente na casa, isso só diz respeito a quem mora na casa, etc. É falta de educação, por exemplo, se dirigir a alguém a quem não se foi apresentado. Isso faz com que o conhecimento fique mais restrito a um grupo, dificultando sua expansão. Este é um dos motivos pelo que muito pouco se sabe sobre o uso que Sensei Mikao fazia do REIKI e suas práticas, apenas o que consta do seu manual de ensino e alguns documentos posteriormente encontrados. A Usui Reiki Ryoho Gakkai é uma sociedade fechada, atualmente com cerca de 280 membros. O que se passa entre eles, a respeito do REIKI, só é conhecido por eles. O pouco que se sabe da história de Sensei Usui e de suas práticas deve-se ao relato de alunos de Sensei Hayashi, de dois dos presidentes da Usui Reiki Ryoho e de um sobrinho neto de Sensei Usui, recentemente apresentado a Sensei Tadao Yamaguchi e ao Mestre Frank Arjava (leia mais no livro: Isto é Reiki de Frank Arjava)
9- Na época de Sensei Mikao e Sensei Hayashi (acredita-se que ainda seja assim na Usui Reiki Ryoho Gakkai) os tratamentos eram distintos. Os tratamentos para cura do corpo físico e dos problemas emocionais/mentais e hábitos não se misturavam num único tratamento. Se pretende-se tratar o corpo físico, usa-se a técnica e observação do byosen, se pretende-se tratar os hábitos, usava-se a técnica do Sei Heki Chyrio (tratamento dos hábitos). Para tratar seguindo-se o byosen é necessário que o aluno já tenha suficiente sensibilidade nas mãos de forma a seguir e observar o fluxo da energia durante o tratamento. Necessário também já ter encontrado um estado de mais paz interior, uma vez que o tratamento é dado em uma mesma posição por muito tempo e o terapeuta se torna observador do processo. Isso requer tempo. Como a forma de se ensinar no ocidente se diferenciou da forma usada àquele tempo, Sensei Takata optou pelo ensino do tratamento através do sistema de posições. Desta forma é possível tratar corpo físico, emocional e mental simultaneamente. A diferença básica entre as duas formas de tratar é que a forma como era usada no oriente trata os problemas (tanto os físicos quanto os emocionais e mentais) diretamente no foco do problema. Tratar pelas posições ( atualmente oito ou doze posições) é tratar através do macro. Uma vez que cada posição se conecta diretamente com diversos órgãos, glândulas, hormônios e específicos meridianos e um dos corpos sutis, através das posições trata-se e fortalece-se o receptor no seu todo e assim, os corpos energeticamente fortes, liberam os bloqueios existentes e se auto curam.
10- Uma vez que os tratamentos não se misturavam, no oriente os portais (símbolos) são utilizados de forma independente um do outro. Alguns portais para a iniciação, outro para a cura do físico, outro para a cura emocional e mental e um portal para Reiki à distância. No ocidente usualmente se ensina que os portais se vinculam e apenas o símbolo do poder (como dizem) é um portal autônomo. Todos os demais portais dependem dele para atuar em sua totalidade.
11- Sensei Mikao, Sensei Hayashi e Sensei. Chiyoko costumavam dizer que REIKI cura toda e qualquer doença , em todos os níveis físico emocional e mental. Os dois últimos adicionavam à informação de Sensei Mikao “ desde que haja paciência e tempo”. Em casos de doenças e ou problemas emocionais e mentais mais graves, a pessoa era tratada por, no mínimo, três meses diariamente, antes de se espaçar a peridiocidade das sessões No ocidente não se fala em cura mas em ajuda complementar aos tratamentos de saúde. Aqui, quando há uma pessoa com doenças mais graves, crônicas ou prolongadas, aconselha-se a que o mesmo ou alguém de sua família faça o curso de Reiki para tratar a pessoa diariamente, enquanto os terapeutas tratam a mesma pessoa com um intervalo de tempo mais longo.